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O caminho é um conceito vasto, já explorado à exaustão no campo do simbólico. Inúmeros autores escreveram epopeias, poemas e romances que têm o caminho como metáfora para a vida. A partir desses escritos, descobrimos que a vida não acontece ao longo do caminho; a vida é o caminho. Neste caso, o caminho tem início na rua, nos riscos dos muros. No trajeto, tem um beco[1], cuja história se confunde com a de Rafael – ou de seu pseudônimo Highraff.
Uma trajetória pode ser um percurso realizado por um corpo no espaço, mas também pode se referir a uma jornada mental – e nenhum dos dois costuma ser naturalmente linear. Mas podemos tomar como norte Lygia Fagundes Telles, generosa com os reveses ao nos dizer que “é nos caminhos curvos que se encontram as melhores coisas”.
Caminho marca, portanto, uma curva na trajetória de Rafael: é o momento em que ele passa das ruas para o ateliê; isso vem acompanhado da consolidação da matemática e da geometria, que tomam um lugar antes dominado pela intuição. Nesse lugar, o artista decide trazer para as obras símbolos carregados de importância pessoal, de espiritualidade e de tradição popular – como fizeram grandes mestres que o inspiram, como Rubem Valentim. Assim como na obra de Valentim, a abstração de Rafael não é desprovida de sentido; pelo contrário, ambos articulam o formal geométrico com o símbolo, o signo e o sagrado.
As referências de Calazans são diversas: embora seja notável a linguagem pop estabelecida pelos anos dedicados ao graffiti, o artista busca ser cada vez mais ser sintético. Por isso, as obras que compõem esta exposição têm um caráter mais sóbrio, trazem menos elementos e mais simetria. Os títulos seguem o raciocínio da síntese, fundindo o racional e o espiritual, e resumem a intenção de Rafael na concepção de cada obra.
Neste Caminho, Rafael Calazans oferece ao público um recorte de seu universo particular, uma fotografia deste trecho da sua trajetória, propondo uma cocriação, na qual toma emprestadas as leis da natureza. Essas regras são, aliás, o único caminho em comum que todos os seres vivos percorrerão.
[1] Rafael Calazans foi um dos artistas fundamentais na revitalização do Beco do Batman nos anos 2000, quando o local passou de ponto marginalizado a referência internacional de arte urbana em São Paulo.
Conjunto Políptico “Jogo” / R$12.500
(4 obras que permitem múltiplas opções de montagem)