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Mogle – Exposição Individual
Título: Lar / Set. 2025
Texto crítico: Renata Rocco
A Kovak & Vieira apresenta a terceira exposição individual de André Mogle, composta por mais de 30 obras — entre pinturas, objetos e esculturas — produzidas entre 2024 e 2025.
Na primeira individual, o fio condutor de sua produção era o Afeto; depois, veio Água Corrente; agora, é o Lar, que se revela como ponto de partida e de chegada.
Se o dicionário define “Lar” como “casa onde habita uma família; domicílio, habitação” e também como “lugar em que se nasceu; pátria, terra natal”[1], nas obras de Mogle essas ideias se expandem — e se aprofundam. Aqui, o lar também é corpo.
Corpo como abrigo. Corpo que se aninhava no ventre materno — o primeiro lar. Corpo que guarda memórias, que cuida, que sente, que pensa. Corpo que retorna à sua origem, que revisita sua ancestralidade.
De origem indígena, Mogle aciona referências da infância e do afeto por meio de elementos simbólicos — como a canoa — convidando o público a adentrar seu universo. Um universo onde corpo e lar se misturam à terra, à água e ao céu, refletindo mensagens que, muitas vezes, nos escapam em meio ao ruído do presente.
Em um tempo marcado pela sobrecarga de tarefas, pela velocidade impiedosa e pelo bombardeio de imagens que nos anestesia e hipnotiza, somos empurrados para longe de nós mesmos — e, consequentemente, uns dos outros. O que Mogle propõe, com delicadeza e profundidade, é um movimento inverso: o retorno a si. Ouvir os sinais. Reativar a escuta e sensibilidade do corpo, acessando a sabedoria ancestral que habita em cada um, como quem busca paz consigo.
Em sua poética, o lar do corpo é também convocação: convite constante a uma jornada de autoconhecimento, de consciência, de comunhão com todos os seres e formas de vida.
Nesse conjunto de obras, o corpo — sozinho e monumental — é apresentado de maneira lúdica e conceitual, por meio de traços finos e camadas de cor que se sobrepõem. Mogle, pesquisador incansável, retoma os ensinamentos dos artistas do Renascimento Italiano para explorar as questões formais da pintura: traço, massa, cor e perspectiva.
Suas obras não se impõem, mas se revelam lentamente, camada por camada, como sussurros dos antigos — ecos de saberes sensíveis que só podem ser acolhidos com tempo, presença e escuta.
[1] Extraído do dicionário Michaelis. Acesso disponível em: https://michaelis.uol.com.br/busca?id=2a45G