ClientClient nameYear2025AuthorAuthor nameShare
TRAÇO CONTIDO
Na contramão dos processos matemáticos executados com a rapidez das máquinas, Hal Trager emprega paciência e minúcia. O resultado são obras que carregam a desconcertante exatidão humana. A op-art atrai o olhar justamente porque nos faz duvidar daquilo que vemos. E, de fato, o trabalho de Hal parece feito para isso.
Aos dois anos de idade, Hal sofreu um acidente que comprometeu boa parte de sua visão, mas não sua habilidade de traduzir o mundo conforme o enxergava. Aliás, o artista parece ter feito uso exemplar da assombrosa capacidade humana de adaptação, desenvolvendo um novo olhar, repleto de perspectiva e profundidade — características abundantes em suas obras.
Sua produção explora simetria, ilusão de ótica e precisão geométrica, com padrões hipnóticos e formas meticulosamente alinhadas que evocam tanto uma sensação de ordem matemática quanto um efeito visual lisérgico. Não se encontram outras cores além do preto e do branco, o que de maneira alguma torna sua obra entediante ou menos complexa: aplicada sobre acetato ou papel vegetal, materiais translúcidos, a tinta escura cria mais de uma camada, intensificando a experiência visual e espacial. Cada obra carrega o potencial de causar vertigem.
Em um país onde há uma forte tradição de artistas que exploram a arte ótica e cinética — como Sacilotto e Ivan Serpa —, parece ao mesmo tempo natural e instigante apresentar o trabalho do estadunidense Hal Trager, cuja obra contemporânea traz frescor a esse legado, convidando o público a ver (e rever) o que está diante dos olhos.
Por fim, talvez a principal questão levantada pela obra de Hal seja: seus desenhos distorcem a realidade ou simplesmente tornam acessível para nós a forma como ele vê o mundo?