Talvez a capacidade mais singular da arte seja a de tornar nostálgico o tempo presente e, em contrapartida, materializar de volta o passado. Isso se consolida nas telas de Alexandre Skaff tanto na forma quanto no conteúdo. Na forma, pela construção pictórica em óleo sobre tela, em que o artista utiliza adições como ceras e solventes naturais para quebrar o brilho tradicional da tinta, criando uma cadência de luz e sombra que entorpece o tempo e o deixa em suspensão.
Quanto ao tema, as telas expostas revelam uma certa solitude – e aqui, faz-se importante a distinção entre solitude e solidão: enquanto a solidão remete à ausência sofrida do outro, a solitude aponta para uma presença consigo mesmo, um estar só que tende a um momento fértil. As personagens de Skaff, quando sozinhas, estão engajadas em atividades introspectivas: a contemplação de si ou da rua, a brincadeira com um esguicho, pá ou galho, a gastronomia, o caminhar sob o sol. Tudo parece encaminhar para um próximo passo que sugere autodescoberta.
Nos poucos casos em que aparecem acompanhadas (como na obra inspirada em uma cena observada no Japão, ou no adulto com a criança na piscina), há nas pessoas um evidente estado de presença que parece levar a alguma revelação. Já a única imagem em que as pessoas estão ausentes traz o registro de uma sala de aula – o lugar da descoberta por excelência.
As obras que compõem Instantes Suspensos podem ser encaradas como registros em que camadas da memória se sobrepõem, criando uma sensação de nostalgia atual. Somos desafiados a todo instante a distinguir o que é a infância vista sob o olhar da vida adulta – e, no caso do artista, atravessada pela experiência da paternidade – e o que ressoa do nosso próprio passado. Cada gesto simples nas obras de Skaff é um vestígio que, sutilmente, age como antídoto contra a velocidade e a dispersão do presente.
Texto Crítico: Luiza Testa
